Pandemia, restrição, contágio, disseminação do vírus, grupo de risco, medidas de isolamento social e a fé sendo provada a cada dia. O momento que o mundo está passando fez com que vários setores da sociedade se reinventassem, inclusive a Igreja Católica.
Atualmente, na fase emergencial, templos estão proibidos de receber fiéis para a celebração da missa, o que não é motivo de deixar a crença de lado. A comunidade da Paróquia Nossa Senhora do Carmo é exemplo em fiéis conectados. Somente em 2021, a igreja já recebeu mais de 36 mil visualizações em lives de celebrações e eventos virtuais no Facebook.
Para Tatiana Cristiana Zambeli Souza von Ah, 44, uma das coordenadoras do Acampamento Sênior, a pandemia não foi motivo para desanimar. Ela conta que participa de terços, cursos e das missas on-line, neste momento de restrição. “Vivencio Deus na minha casa e em todos os momentos, isto é algo que já faz parte da minha vida. Eu acredito, sim, que esse vivenciar Deus está muito no nosso interior, está dentro de cada um.”
Tatiana e a família na Igreja Maristela (Tatiana von Ah / Cedida)
A fé continua viva e a coordenadora enfatiza que “mesmo com as missas on-line, Deus continua fazendo parte do cotidiano. Essa tecnologia [das transmissões] permite várias pessoas se encontrarem por vídeo e estarem rezando juntas”.
Para quem faz parte do grupo de risco, a única saída foi acompanhar as celebrações virtualmente. Sílvio Marques Jianelli, 64, aposentado, ministro da Eucaristia e membro da Pastoral do Curso de Noivos, fala que por conta da diabetes e da pressão alta, ele e sua esposa acompanham as celebrações em casa, desde o começo da pandemia.
“As missas on-line têm sido uma bênção, principalmente para nós que não estamos conseguindo ir presencialmente. Eu acho que, se Deus pode tudo, como é que Ele não iria nos atingir via on-line? Tendo fé, a gente consegue sim estar em sintonia com Deus”, afirma Sílvio.
Com a pandemia, existem pessoas que passaram a rezar mais, como é o caso de Monize Santos Soares, 34, maquiadora e agente da Pastoral da Acolhida. “Dá sim para vivenciar a presença de Deus em casa, requer compromisso de estarmos sempre ali on-line, assistindo, se entregando de coração e clamando pela presença do Espírito Santo em nosso lar”, relata.
Monize Soares com a família recebendo a Sagrada Eucaristia no sistema drive thru (Pascom Paroquial / Arquivo)
O período pelo qual todos estamos passando não tem sido fácil, inclusive com a intensificação do convívio dentro de casa. Como cristãos, precisamos ficar atentos com as oportunidades que Deus nos dá para exercitarmos o cuidado ao próximo. “Em quarentena, junto com as nossas famílias, acho que temos que pedir a Deus muita paciência, discernimento, porque se não a gente se machuca e machuca os outros integrantes da família”, aponta Sílvio.
Já Tatiana reforça a importância de ter Deus nesse momento de tristeza e em que todos estão mais irritados. “Nesta fase, ter Deus, ter Jesus, ter a intimidade com Maria, é o que nos mantém firmes e tendo a certeza de que isso tudo também passará. Esse nosso abalo, com certeza são provações de que Deus está nos proporcionando para crescermos e termos um grande aprendizado da nossa crença, do nosso acreditar nos propósitos de Deus.”
Ensinamento
Apesar de ser um tempo conturbado, a Igreja Católica vem se desenvolvendo e integrando cada vez mais a tecnologia à evangelização. Quem também aprende com tudo isso, são os fiéis: “O maior aprendizado que a pandemia me trouxe foi vencer o medo. Deus me deu coragem e aumentou ainda mais minha fé. Somente Ele é capaz de revigorar minha vida e a forma como enxergo o mundo”, explica Monize.
Tatiana acredita que a pandemia veio para nos mostrar que todos nós somos iguais. “Agradeço por essa oportunidade que Deus está dando a cada um, de olhar ao próximo. Este é o grande ensinamento da pandemia: é termos a fé de que isso também passará. Não há tristeza que dure para sempre”.
Enquanto, para Sílvio, esta pandemia nos faz refletir sobre o que é essencial em nossas vidas. “A gente tem certeza que temos um Pai Misericordioso, que cuida da gente, que nos provê o básico e que apesar dos recursos financeiros limitados por causa da pandemia, ainda podemos refletir e ser mais solidários, repartir um pouco mais, exercer a caridade. Deus, para aquele que crê, é tudo em nossas vidas”.
Vínculo com Deus
Por mais sombrio que este momento seja, a comunhão entre os irmãos e o relacionamento com Deus foi intensificado.
Monize relata que o seu vínculo e intimidade com Deus se fortaleceram demais. Já Sílvio diz que suas orações aumentaram, pois “hoje existem tantos pedidos para rezar para as pessoas, para as famílias, tantos motivos para orar, para estar em sintonia com Deus”.
Assim como Jesus diz no Evangelho de São João (Jo 15, 17) “Este é o meu mandamento: amem-se uns aos outros”, esta pandemia vem transformando a vida do cristão. “Estou sentindo as pessoas mais fortalecidas na oração em prol do próximo. É a compaixão para ajudar no financeiro, numa oração pela saúde física, rezando juntos pela saúde emocional e mental”, finaliza Tatiana.